quinta-feira, 30 de novembro de 2017













e além do mais
o que me deixa no ar
é que não posso fingir
que me esqueci

pois senão
como há de ser
se por acaso
ela então se lembrar?






















adeus minha amiga
que nesta nossa viagem
os anjos nos guardem 
e nos iluminem
cada um pro seu lado
cada qual no seu canto
e para nosso espanto
mal compreendemos
por que foi que brigamos









a nuvem no alto
parece que não se move
ao fundo a igreja
delicada e humilde
o natural permanente
o antigo que se conhece
no passeio à tarde
tudo isso aparece
sob nova perspectiva
da recorrente paisagem
onde o invisível despista
e apenas se esconde







o mundo me assusta 
mas assim mesmo
a ter que fugir
prefiro enfrentá-lo 
se bem que enfrentar
pode não ser o caso
afinal se é este o que se tem
é com este que se vive
pois que sabidamente
não há outro mundo
ao menos por enquanto
ninguém diz nada a esse respeito
melhor então que se entenda
que ele procede à sua maneira
e nós é que carecemos
descobrir como nos ajeitamos
teve um sujeito sabido
que disse que coragem é necessário
e nisto ele está certo
coragem para tudo
tudo aquilo que parece que nos contraria 
mas contraria coisa nenhuma
nós é que não aprendemos direito
conviver com um monte de coisas
é certo que tem muita tristeza
tem os que se vão e nos deixam
tem as tragédias, os infortúnios
obras maléficas dos homens e da natureza
mas enfim esse é o mundo que nos resta
e coragem bastante que nunca nos falte 
para nós homens principalmente
acordarmos todos os dias
sabendo que se de um lado a onça vigia
do outro tem uma moça esperando
e todas as duas danadas de fome









quarta-feira, 29 de novembro de 2017










pela rua que eu ia
havia uma casa 
de muitas janelas
e se chegava
à porta de entrada
por uma escada
de pedras branquinhas
hoje se passo
pela rua que eu ia
vejo na esquina
um terreno vazio
então na memória
abro janelas
e subo uma escada
de pedras branquinhas
que quando menino
eu nunca subia









cultivo aquilo que me alegra
e que renasce a cada dia 
por isso me encanto com o verde
e com o brilho que fala
nos olhos dos bichos















a beleza 
é clara e transparente
a beleza
é escura e profunda
a beleza
é ruiva e ardente
a beleza
brilha diante dos olhos
a beleza
insinua-se pelos poros
a beleza
circula pelas artérias
a beleza
vibra na alma
a beleza
é nórdica
com ginga africana
a beleza
é oceânica
farta de mistérios
a beleza
tem formas perfeitas
a beleza
encanta os sentidos
a beleza
é feminina por natureza
a beleza
é êxtase
de que se ocupam as deusas








se vences
a sorte te abraça
e te sentes feliz

pobre felicidade
que só na vitória
se sente feliz










a poesia me fala
de certas coisas
que não imagino
como ela sabe
que nem desconfio
de onde ela tira
ela desvenda
o que não sei
como que era
nem onde que estava

por isso meu amigo
que se naquilo que escrevo
você pressentir um sujeito
que não se parece comigo
pode estar certo
que ela está ao meu lado
e que apesar da ciência
os mistérios persistem










se uma criança
brinca e se alegra
a alegria mostra
como se sente
alegre,
naturalmente

terça-feira, 28 de novembro de 2017










não foi nada
só ponta de espinho
que com cuidado
logo foi retirada
mas mesmo assim
bem no cantinho
às vezes inflama
e dói um pouquinho










fizeste tua escolha
naqueles dias de sol
e então não pensaste 
que viriam as chuvas
se ao menos tivesses
a sabedoria dos sapos
não estarias agora
submerso no pântano












espalhem meus versos
por onde possam ser lidos
desde que foram escritos
pertencem a si mesmos
e tais como filhos
que fazem parte da gente
não devo querer
tê-los somente comigo











afirmava que escaparia
como dizia, "da derradeira"
até escolheu a hora perfeita
gostava tanto da vida
que morreu quase amanhecendo
acreditando que logo despertaria








diga-me lá
para que serve a poesia?
serve pra nada eu diria
que me perdoem as palavras
mas me parece que os poetas as fazem de tolas
e valem-se delas para iludir as pessoas
pois que falam das coisas como pensam que são
e pouco  importam como elas verdadeiramente se dão
o amor por exemplo
tema dos mais recorrentes
a que os poetas se entregam
e desesperadamente dele se ocupam
tanto já disseram em seus versos
e de tudo que já foi dito
do amor nada foi esclarecido
e o pobre permanece incompleto
sempre a procura do que lhe faz falta
portanto de nada lhe valeram os poetas
e assim como fazem com ele
vivem fazendo com tudo mais do que tratam
mais parecem farsantes e nenhum respeito merecem
melhor que se calassem ad aeternum
e não mais ofendessem as palavras
conspurcando-lhes seu próprio sentido
contrariando-lhes seu significado
e o mundo então seria exato e perfeito
sem nada que não se completasse
se alguém apaixonadamente dissesse
eu te amo
estaria certo de que seria correspondido
porque ao amor nada mais faltaria

a não ser a poesia que desencantada pereceria

segunda-feira, 27 de novembro de 2017








penso em respostas
que me são necessárias
e naquilo que faço
para poder encontrá-las

se as ouço faladas
se as leio grafadas
pressinto-as lascadas
desprovidas de partes

procuro no escuro
investigo no claro
vou além do percurso
e retorno sem rumo

o tempo é escasso
percebo que passo
consultando oráculos
e permanecendo confuso

esqueço e descanso
viajo no branco
que vestem os anjos

e lá onde chego
a poesia me espera
farta de enganos























Antes éramos nós
Mais nossos sonhos
Que nos guiavam
Por onde seguíamos
A despeito daquilo
Que nos suscitava temores

Hoje nos surpreendemos
Se olhamos no espelho
E notamos em nossos olhos
Algum resquício
Daquilo que foram
Os nossos sonhos

domingo, 26 de novembro de 2017









a poesia ilumina
veredas escuras
que desconhecemos
e aquelas distantes
por onde passamos
e nos esquecemos









Muito me alegro
Ao reunir-me às palavras
Tal quando menino
Descuidado das coisas
Que não me pareciam
Os melhores brinquedos

Brinco com elas no meu pensamento
Aquilo que penso elas repetem
Às vezes engasgam e não pronunciam
Outras se esquecem do que deveria ser dito
Mas nunca me deixam brincando sozinho
E cuidam daquilo que guardo comigo

Reinventamos um tempo que passa
Sutilmente como passam as nuvens
Eis que desta harmonia nasce o poema
Feito o reino encantado que nascia do barro

sábado, 25 de novembro de 2017
















queria uma chuva fina intermitente
estendendo-se por todo o dia
e das janelas úmidas e embaçadas
ver a paisagem manchada de cinza

queria um vento gelado
soprando por ruas desertas
e lá no alto o voar silencioso
de pássaros partindo em revoada

queria nesse tempo obscuro
tornar-me o mais sombrio dos poemas
e perscrutar o sentido do que me entristece

e se descobrisse seja lá o que fosse
faria com que tal sentido se desfizesse
e um menino ofuscado novamente se iluminasse






















neste voo que é cego
abro minhas asas
e permaneço no vácuo
não subo e nem desço
flutuo
aprendi esse voo
desde menino
menino sozinho que aprende
com seus sonhos
com seus medos
com a espera daquilo
que vale a pena esperar
mas ninguém engana
o menino que sabe
que aquilo nunca virá
e foi assim que desde menino
abro minhas asas
neste voo que é cego
e permaneço no ar

sexta-feira, 24 de novembro de 2017















eis me ainda por aqui
e pensar que já poderia ter ido
num destes infinitos instantes
permanentes, ininterruptos
que desde quando cheguei
são quem me asseguram
de tudo que parece que sei
de tudo que parece que tenho
de tudo que como eu
parece que é e deixa de ser















como bem disse
Santos Dumont lá nas alturas
a vida se esvai
num bater de asas
enquanto vivemos
só nos resta voar


quinta-feira, 23 de novembro de 2017










a essência da poesia
como só poderia
é única
e repete sem copiar
o que alguém já pensou
o que alguém já sentiu
porque tudo procede
da mesma mistura
que permanece
nunca renasce
nunca envelhece
continua











esperei por quem viria
esperei muito além
do que pensei que seria
aquela espera
deixei de esperar
e há muito que penso
que deveria por certo
permanecer esperando
e jamais ter deixado
de esperar por quem nunca viria













a filosofia é difícil
porque a vida não é fácil
por isso que o texto filosófico
tal como a nossa vida
é um desafio constante
e a dificuldade se multiplica
na medida em que nos aproximamos
do pensamento de cada filósofo
pois que a vida se mostra diversa
para cada vivente
seja ele o filósofo que busca o entendimento
seja ele apenas o sujeito que pouco se importa
e descuida daquilo que pensa

quarta-feira, 22 de novembro de 2017













o que mais me incomoda
nos extraterrestres
é essa mania
de ficar nos sondando discretamente
como se existissem
mas não estivessem
ou vice versa
se é que daria pra imaginar
uma coisa dessa
diferentes de nós seres humanos
que chegamos
como se já fôssemos os donos
das novidades que encontramos
estacionamos a nave
saímos pulando
remexemos as pedras
fincamos bandeiras
(mesmo que sejam daquelas
que tremulam com vento inexistente
ah, a NASA apresentou justificativa?
ainda bem que foi ela
pois se fossem os russos seriam mentiras
mas isso não importa
guerra fria é passado
agora o que impera é o livre mercado
e a bagaceira das corporações abstratas
sinistras
que atuam em silêncio debaixo dos panos
embora ainda vigore a resistência cubana
admirável
e a China que voa sobre quem vai caminhando
a Coréia?
incomoda
mas é só coadjuvante
e apesar disso tudo
permanece a labuta das formigas
que só se compara com a das abelhas
que por causa do mel parece-me mais benéfica
sem contar que polinizam as flores
e flores como se sabe não germinam no deserto
mas antes que de vez eu me perca
se é que já não me perdi e não me dei conta
sigamos)
enfim os contrariamos
(os extraterrestres para quem não se lembra)
e fazemos de tudo
para que percebam que ali estivemos
















com o passar do tempo
o melhor que aprendemos
é que dos males que nos afligem
menores são os que nos atingem
mas que de forma alguma
ferem diretamente
aqueles que amamos