segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
As possibilidades humanas estão se esgotando
deixamos aos poucos de alimentar nossas raízes
distraímos consumindo tecnologias
e nos confundimos desprezando o que faz sentido
Perante as telas e o automatismo
consagramos sem percebermos
programas,áudios e vídeos
os novos ícones da era em que vivemos
Pensamos apenas o necessário
para o bem da nossa sobrevivência
para manutenção de um suposto conforto
e de uma estabilidade que presumimos eterna
A todo momento somos incomodados
pelos conflitos e pela tragédias
mas permanecemos imersos num sono profundo
na descoberta de um novo brinquedo
Sem qualquer pretensão caótica ou profética
são meras considerações poéticas
diante de águas cristalinas que escorrem
debaixo da sombra de uma figueira centenária
domingo, 26 de fevereiro de 2017
Esqueci meu corpo
na sombra da jabuticabeira
aquele quintal era outro
refeito em nuvens passadas
brancas nuvens retidas na minha memória
Debaixo do muro de barro
escorria água de mina
o cinza bambu ressecado
da cerca precária
lenço na cabeça,avental na cintura
a velha senhora labutava incansável
Ao fundo na cobertura
todas as coisas que faziam sentido
o torrador girava,chiava
um tacho enorme fervia
cheio de fruta madura
sobre o fogão a lenha aceso
diante dos meus olhos fechados
Águas passaram e se foram
nuvens passaram e se foram
crenças,vontades,desejos
Se satisfizeram,se frustaram ou se perderam
Os gestos ficaram
palavras ainda ressoam
o afeto puro e verdadeiro
permanece intacto completamente
É nesse mistério
que a alma consiste
é desse alimento
que a alma precisa
A eternidade dos seres
prevalece indizível
no amor repartido
que se eleva ao infinito
Há quase trinta anos
sem que proíba ou me imponha
a Globo não é bem vinda
e não entra na minha casa
Permaneci esses anos bem informado
li as notícias, adquiri conhecimento
embora não saiba de nada
sei principalmente que a Globo não presta
Não presta quem consagra a mentira
não presta quem sabota os fatos
quem se cala diante da injustiça
quem promulga o falso e as meias verdades
Desprezo este poder arbitrário
que há muito se propaga em rede
que enaltece,exalta,acusa,condena
que julga sem mérito para fazê-lo
A Globo é a voz da Casa-Grande arcaica
seu poder e a sua paga
ela conquista com a tortura que emprega
quando desinforma e manipula pelo seu interesse
Não há virtude que prevaleça
Não há Brasil livre e soberano
sem que a Globo seja sentenciada
e se submeta ao juízo proferido
Os caminhos que percorrem o coração dos homens
são rudes estradas de pedras
são ruas de sombras esparsas
praias desertas afeitas ao sol
São labirintos com recantos obscuros
alamedas alegres repletas de cores
são becos,pontes,travessas
trilhas incertas,sendas antigas
São vias onde tudo se passa
e nem sempre levam aonde se espera
às vezes se cruzam e confundem
às vezes apontam sentidos inversos
Os caminhos que percorrem o coração dos homens
convém conhecê-los com todo cuidado
convém encontrá-los livres e claros
não obstruídos e manchados de sangue
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
Vá em paz
com tudo que aconteça
vá em paz
com toda sua força
Mesmo que não mereça
todo esse sofrimento
vá em paz
esqueça-se disso
Desate seus nós
vá em paz
em vão não se prenda
ao que reduz e destrói
Vá em paz
refaça seu brilho
debaixo do sol
diante do espelho
Lembra o segredo
dos lírios do campo
vá em paz
sem medo de nada
Os prados,o mar
seu lugar encantado
vá em paz
esteja à vontade
Vá em paz
alguém nos espera
desde quando nascemos
há um fim nisso tudo
há um porto seguro
vá em paz
aonde quer que iremos
levaremos conosco
a potência em germe
que estabelece o eterno
O amor explica a si mesmo
é um entendimento sutil
que se aprende
sensivelmente
O amor em sua plenitude
é cristalino,transparente
não se confunde com o que pareça
semelhante
Feito nuvem permanente
que nos protege
e nos permite o sol
necessário
Feito água corrente
purificada em ásperas pedras
que nos envolve,dilacera
e cuida para não ferir
O amor quando se descobre
é um sentir inequívoco
que perdura incólume
e a nada se compara
Quem ama não adora
adoração é loucura desmedida
amor é lucidez pura
inata sabedoria
Toda sorte de mulheres
já me fez companhia
essa foi a senha
que me fez possível este mundo
já fui rei um dia
cavaleiro garboso em árduas conquistas
homem do espaço,herói invencível
menino dormente em colo querido
já fui astro galante de cinema
já fui poeta de versos apaixonados
já me vi atônito em sórdidos prostíbulos
recebi de graça o sexo de anjos decaídos
foi delas o estímulo para tudo isso
foi delas a confiança para meu avanço
nada seria sem o afago sincero
nada seria sem o carinho perene
necessário presença desde o início
mulheres amadas que me sustentam
as do passado,as do presente
as que pressinto quando ainda não sei
domingo, 19 de fevereiro de 2017
A sombra dos anos
só vai aumentando
escurecemos,esfriamos
fechamos janelas que não deveríamos
Afiamos demais
as nossas espadas
reforçamos além
os nossos escudos
A imensa armadura
que nos protege
limita os movimentos
impede qualquer aventura
Reclusos em castelos
senhores do trono
abdicamos dos riscos
em nome do reino
São tantas conquistas
ao longo do tempo
inscritas no espaço
por elas pagamos o preço
Permanecemos paralisados
escoltados,inseguros
aprisionados pelo irreversível
aquém do infinito e da profundidade
Livrar-se completamente
é uma possibilidade
saindo da sombra
correndo-se os riscos
Estamos á vontade
diante da escolha
aguardamos passivamente
ou mudamos o rumo
Naquilo em que confiamos
está a semente
para o brilho nos olhos
para sairmos do escuro
Ao fim dessa viagem
responderemos a nós mesmos
se fomos sinceros
se fomos verdadeiros
Sinto que escrevo
pensando na felicidade
se acerto ou me engano
desconheço esta sorte
sábado, 18 de fevereiro de 2017
Naquela noite sobre a cama
tudo estava perfeito
nem poderia ser diferente
com a atenção que me dedicavam
A calça cinza esticada
o bolso bordado vermelho
da camisa branca dobrada ao lado das meias
que não me lembro se brancas ou cinzas
O sapato brilhando
num canto do quarto
a ansiedade, o medo
de acordar no outro dia
Lá se foram vestidos
aqueles tímidos onze anos
curiosos,temerosos,assustados
Subindo aquelas inesquecíveis escadas
para se encontrar com o desconhecido
para descobrir o que ali se escondia
Ah, aquela música...
ah, aquele tempo...
estou certo
que daquilo tudo
nada desejo lembrar
estou cego e mudo
para aquilo
que ficou perdido lá atrás
mas se por acaso
ouço aquela música insistente
seu olhar ressurge
com a chuva que cai
com o sol poente
com o magnífico luar
e devagar vou indo
outra vez encontrar
o passado que definitivamente
eu queria esquecer
A esperança nos encontrava
em qualquer esquina
o sol era mais um menino
que sempre surgia
O sorriso era fácil e sincero
os sonhos nos faziam
de olhos bem abertos
sobrevoarmos largos espaços
Lá embaixo os rochedos
as cruzes fincadas
eram os verdes os vales
e o medo se desfazia
Meu amigo querido
salvo a vida que tínhamos
não tínhamos nada
e fomos donos do mundo
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