aqueles que ali estiveram
naquele tempo e lugar
se sonhos pudessem
fazê-los voltar
seriam fagulhas dispersas
em noite de festa
seriam gotas de orvalho
em verdejante manhã
saliva na boca
sabor hortelã
Dizer que aprendi
Talvez seja porque
Voltei sem me perder
Ao lugar de onde parti
Dizer que não sei
Talvez seja porque
Pensei falar sem me confundir
De tudo aquilo que é
Dizer que sonhei
Talvez seja porque
Deixei me levar sem resistir
Por algum deus que passou por aqui
De fato algumas lá estavam
Rabiscadas sabe Deus quando
Por alguém supostamente eu
Aquele quem eu teria sido
E de quem nada sei e não reconheço
Um estranho que se me apresenta
Querendo se apossar de mim
Dizendo-se dono dessas mesmas vestimentas
Que sempre usei e mal percebi
O quanto estão rotas e envelhecidas
O melhor poema que escrevo
É este que acabo de fazê-lo
Até porque ainda não o esqueci
e de pronto sei dizê-lo por inteiro
Tal como aquele filho querido
Que acalentado e cumulado de afagos
Sonhando viaja por insondáveis caminhos
Pelos quais jamais nos encontraremos
Este o pão que sacia
Este o fogo que castiga
Este o cão que alegra
Saciedade que anima
Sofrimento que aniquila
Alegria que estimula
Se bem ou mal me explico
Estou convencido
Que tudo que digo
Realiza-se no que é sentido
Entretanto nada se dão
Se os chamamos pão, fogo e cão
ou se acaso saciam, castigam e alegram
Apenas existem, existiram, existirão
Se bem ou mal me explico
Estou convencido
Que tudo que digo
No realizado faz sentido
Olho e me vejo
Sou eu que estou vindo
Encontrar-se comigo
Que não paro e prossigo
Olho e me perco
De mim que prossigo
Por idos caminhos
Que não me levam de volta
Olho e me sinto
Um todo partindo
Em cada momento
Que fui me fazendo
Olho e me espero
Sem fadiga ou tristeza
Estando sempre comigo
Até quando eu esteja